Wicked: For good transporta para as telas dos cinemas o segundo ato de Wicked. A segunda parte dá um salto temporal e apresenta as protagonistas anos depois das escolhas feitas ao som de Defying Gravity.
O segundo ato é muito mais denso, político e fala sobre conviver com as decisões que fazemos para nós mesmos, assim como as consequências de tais escolhas.
ATENÇÃO! A PARTIR DESTE PONTO HAVERÁ SPOILERS DE WICKED: FOR GOOD.
Enquanto o segundo ato da peça abre imediatamente com Glinda e demoramos um pouco até revermos Elphaba, o filme começa com a construção da estrada de tijolos amarelos utilizando mão de obra animal para a sua produção. Imediatamente, Elphaba em uma cena de ação digna de filmes de super herói, resgata os animais e pune os funcionários do mágico com a mesma crueldade que eles tratam os animais.
A cena de abertura dá o tom do que veremos nas próximas 2h18, que passam tão rápido ou ainda mais do que as 2h30 do primeiro filme. Wicked: For good tinha o desafio de encantar os fãs do musical da mesma forma que encantou com a primeira parte e surpreender quem não conhece a história, um desafio já que era preciso aprofundar os temas, explicar em que ponto cada um dos personagens está e, finalmente, unificar a história com a de O mágico de Oz para chegarmos ao início do primeiro filme.

O segundo ato do musical possui muitas cenas com múltiplos personagens e ações ocorrendo ao mesmo tempo para poder dar conta do tanto de história que ainda precisa ser contada. O filme tem a vantagem de não precisar fazer o mesmo, mas pode causar um estranhamento nos fãs do musical, principalmente ao mudar a ordem de alguns acontecimentos, ou esticar algumas canções. As que mais tiveram modificações foram Thank goodness e Wonderful.
A música de abertura é desmembrada e tem trechos adicionados, principalmente porque é preciso situar o espectador não acostumado com o musical. Além disso, a trama a respeito da situação dos animais já havia sido ampliada na parte anterior, também precisando de desenvolvimento. Assim, acompanhamos mais ações de Elphaba e vemos como Glinda ainda lembra da amiga.
A festa de noivado é também a inauguração da estrada de tijolos amarelos e a descoberta de Elphaba de que Fyero está à sua procura como capitão da guarda de Oz. A antecipação de tal descoberta é importante porque, com isso, ela realmente acredita que está sozinha e decide procurar a sua irmã como última opção.

A audiência é então apresentada à primeira nova música No place like home, cantanda por Cynthia Erivo enquanto tenta impedir a fuga de Oz dos animais que ainda são capazes de falar. A música é um tanto melancólica, mas tem partes animadas, buscando incitar alguma esperança nos animais. A letra também dialoga com falas de Dorothy no original, quando ela diz que não há lugar como o nosso lar. Na letra, Elphaba reconhece que há problemas em Oz, mas que não devem desistir do lugar porque, mesmo com os defeitos, ainda é a casa de todos eles. Impossível não relacionar com os problemas mundiais que têm ocorrido por conta de imigrantes e pessoas que buscam novos lugares para viver porque sua terra natal não colabora com a sua existência. A própria família de Cynthia é de imigrantes que se mudaram para o Reino Unido, fazendo com que a leitura seja reforçada, uma vez que ela trabalhou junto Stephen Schwartz na letra. É nesse momento que a primeira conexão é feita, com a aparição do leão covarde incitando os outros animais a não ouvirem Elphaba e a revelação de que ele é o filhote salvo por ela e por Fyero no primeiro ato.
Há muitas reprises de cenas do primeiro filme conforme os personagens lembram dos momentos felizes vividos, sempre evocando um passado que se perdeu e ecoando nas palavras de Glinda em sua primeira canção: felicidade é o que se alcança quando os sonhos se realizam. Então por que não estão todos felizes? Temos também um vislumbre da pequena Glinda, criada em um ambiente que a tratava como especial e dando a ela tudo o que ela quer, mas ela nunca obtendo o que realmente queria.

No musical, Nessarose se torna a Bruxa Má do Leste após lançar um feitiço em seu amado que decide abandoná-la porque ela não precisa mais de ajuda, uma vez que Elphaba enfeitiçou seus sapatos e agora ela pode andar. O filme muda sutilmente a situação e Nessa não quer andar, mas sentir a mesma alegria que sentiu no baile e que permanece em suas lembranças. O encantamento no sapato a deixa tão feliz e leve como na sua juventude, a ponto de deixá-la flutuando e fazendo com que o sapato realize os desejos de quem usa, sendo mais condizente com a lógica de O mágico de Oz.
Nesse momento temos a segunda conexão, com Boq se tornando o Homem de Lata. A cena é muito interessante e mistura efeitos práticos e CGI, além de fazer com que o breve suspense que ocorre na peça também ocorra na tela. Além disso, indignado com a sua nova condição, Boq foge pela Terra dos Munchkins, e fica claro que estar procurando por ele é o que faz com que Nessa seja esmagada pela casa de Dorothy.

De volta a Oz, Elphaba vai confrontar o Mágico e o reencontro com Glinda acontece antes, fazendo com ela esteja presente no momento em que o Mágico, tornando o momento de quase conformação de Elphaba muito mais plausível, uma vez que é a amiga de quem ela tanto sente falta que está ali. O Mágico é retratado como um sujeito que se deixa levar, tal qual o seu balão foi levado pelo vento. Esse é o momento de Michele Yeoh brilhar, mostrando de verdade quem é Madame Morrible e como ela é a pessoa por trás da cortina manipulando o mágico e todos os outros ligados a ele. Ela já mostra desde a primeira cena que é quem coordena a comunicação, dando o tom da propaganda quase fascista e distribuindo panfletos que lembram os panfletos racistas, mas conforme o Mágico se mostra perdido, mais ela cresce e mostra sua vilania.
Os pontos altos das canções continuam sendo As long as your mine e No good deed. A primeira é momento em que Elphaba e Fyero deixam de lado qualquer receio e finalmente ficam juntos mantendo o pudor para que a classificação etária seja mantida, quem quiser mais de Jonathan Bayle precisa se contentar com Bridgerton. A segunda retrata o momento em que Elphaba perde tudo, inclusive o amado recém conquistado, e decide assumir a persona maligna que tanto tentaram impor a ela. Elphaba tenta um último feitiço para ajudar Fyero e segue para capturar Dorothy e tomar o que deseja.
A virada de Elphaba se dá logo depois de um dos únicos momentos cômicos do filme. Glinda e Elphaba se enfrentam literalmente, caindo uma sobre a outra em uma briga. A cena amplia o momento engraçado e icônico do musical, trabalhando com diversas possibilidades que o filme permite. A cena conecta os momentos das duas canções e dá fôlego para o grande solo de Elphaba do segundo ato.

Outra alteração se segue e a nova canção é apresentada, logo após o confronto de Glinda e Madame Morrible. A canção de Ariana Grande é leve, mas profunda, mostrando o quanto Glinda tenta ser superficial, mas é frágil como a bolha que a transporta. The girl in the bubble é gostosa de ouvir e dá o tom agridoce que o final do musical tem, um final feliz que não é o ideal, mas é o possível. Claramente será a aposta da produção para Melhor Canção do Oscar, sem muito mais coerente e bem encaixada do que a canção original cantada por Cynthia, ainda que deva ser inscrita para aumentar as chances e diminuir a concorrência.
Por fim, o filme se encaminha para o grande final, o dueto entre as duas que dá nome à segunda parte. For good mostra como uma mudou a vida da outra e como elas sofrem com a separação que, elas percebem será definitiva, ainda que um pouco de cada ficará com a outra. A cena segue a lógica da peça, mantendo o cenário escuro e com poucos elementos, focando apenas nas duas e trocando seus lugares enquanto elas cantam e harmonizam.

Por fim, Elphaba esconde Glinda para que não percebam que ela foi visitá-la e a separação é reforçada ao ter a tela dividida pela porta que as separa, colocando cada uma de um lado sem poder acessar a outra. O derretimento é brilhantemente feito, seguindo a lógica do musical, mostrando apenas as sombras e vemos tudo pela perspectiva de Glinda que acompanha tudo por uma fresta. Dorothy não é mostrada, como já havia adiantado o diretor.
O filme finaliza com a revelação de quem é o Espantalho e segue com o destino das duas amigas. Os elementos do musical são adaptados, buscando fazer com que os fãs reconheçam as cenas, mas as vejam ampliadas como o destino concreto de Elphaba e Fyero e Glinda assumindo a luta de Elphaba e reintegrando os animas à sociedade. Para aqueles que não conhecem, fica a surpresa e o impacto de ver a história completa pela primeira vez.
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