O Sonho de Tolkien: uma jornada psicanalítica

Natanael Pedro Castoldi

Tenho uma vida onírica muito ativa e fértil, experimentando noite após noite sonhos fantásticos de narrativas complexas. O universo dos sonhos sempre despertou muito a minha curiosidade, dado o tempo que lá passo e o impacto profundo que algumas de suas imagens causaram em minha vida vígil. Os mecanismos da formação do sonho, de sua natureza e de sua significação moveram minha formação em psicologia e também a maneira pela qual acessei a biografia e a obra de Tolkien.

O autor de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, tal como eu, era um sonhador. Coisas que sonhou acabaram entrando em sua obra literária. Ter descoberto esse Tolkien onírico na leitura de sua biografia atiçou um braseiro na minha imaginação. Quando li o mestre descrevendo um sonho que o acompanhou durante muitas décadas, da infância junto da mãe à maturidade de sua obra, não pude deixar de ficar impressionado e passei muito tempo orbitando ao redor dessa informação e de seu conteúdo: a chamada Onda Inelutável, que se elevava sobre os campos verdes e os varria, engolindo-os e afogando suas árvores. Desse sonho, afirma Tolkien, desde tenra idade, fazia com que acordasse ofegante. A perduração de tal assombro noturno rendeu-lhe até um nome: Complexo de Atlântida.

Em dado momento de sua vida, quando seu filho Christopher foi à África do Sul e esteve na região onde Tolkien nascera, um interesse por Arthur, seu pai e avô de Christopher, foi reascendido em seu coração. Semanas após, Faramir, filho do regente de Gondor, apareceu espontaneamente na sua mente e, embora de início Tolkien não soubesse exatamente nem a identidade e nem o papel que Faramir desempenharia, já sabia que ele estava na história “retardando a catástrofe” (TOLKIEN, 2006, p. 81). Faramir também foi declarado pelo seu (sub)criador como a personagem com quem ele mais se identificava e para quem legou seu sonho da Onda Inelutável — a qual o personagem descreve em O Retorno do Rei. Após isso, afirma o professor de Oxford, esse sonho foi “exorcizado”.  

Quando, nas Cartas, ele se compara com Faramir, exceto pela falta de coragem, exclama: “deixe os psicanalistas notarem!” (TOLKIEN, 2010, p. 223). Ora, na graduação de psicologia, isso me soou como um desafio, e munido do instrumental teórico psicanalítico, empreendi um experimento em análise de sonhos no afamado e acima descrito Complexo de Atlântida. As conclusões às quais cheguei, envolvendo a obscura pessoa de Arthur Tolkien — o pai que foi perdido na aridez de Bloemfontein —, estão estabelecidas no Trabalho de Conclusão de Curso abaixo indicado e foram dispostas ao modo tolkieniano da escrita espontânea, que fez nascer Faramir e que fez nascer o brevíssimo conto autoral que você agora lerá.

Espero que, além dos resultados mesmos da minha pesquisa, a própria natureza do trabalho represente uma boa contribuição aos estudos de Tolkien e de sua obra no Brasil, apresentando seu universo ao das possibilidades da ciência psicológica. Boa leitura!


Acesse O Sonho de Tolkien pelo link abaixo:

https://www.univates.br/bdu/handle/10737/2688


Referência:

TOLKIEN, J. R. R. As Cartas de J. R. R. Tolkien. São Paulo: Arte e Letra, 2010.


Arte destacada: Ted Nasmith.


Natanael Pedro Castoldi é teólogo e psicólogo clínico. Atua em aconselhamento pastoral e cuidado missionário no TeachBeyond Brasil.

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