A Viagem de Meteóris: o lançamento de uma escritora

Por Cristina Casagrande

Isabella Lotufo, escritora

Isabella Lotufo resolveu comemorar o seu aniversário na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) este ano com o marido, a filha de menos de um ano e meio (hoje com 1 ano e 8 meses), a mãe, a sogra, a irmã, os cunhados e toda a sua família. Em sua casa em Ribeirão Preto, ela tem uma prateleira de seis fileiras na vertical e cinco na horizontal que mostra parte da sua coleção de mitos, contos e lendas. Quando tinha vinte e poucos anos, viajou até a Islândia para estudar mitologia nórdica. Essas e mais algumas peripécias revelam a sua maior paixão: escrever e escrever fantasia. Hoje, ela se equilibra entre os cuidados da mais velha Martina e a Anna, de apenas dois meses, e o lançamento de seu mais gestado rebento: o seu primeiro romance, A Viagem de Meteóris. De acordo com a escritora Ana Miranda, que faz a apresentação do livro, a história “torna mais leve a alma da criança que o lê, do adolescente, do adulto que guarda em si a juventude e a infância. Plumas ao vento.”

A Viagem de Meteóris será lançado no dia 28 de novembro, às 17h, na Galeria Duda Ometto, em Ribeirão Preto. O livro estará disponível para venda nesse dia também na Amazon Brasil, em formato físico, pela editora Sinete, e digital, pela Bookerang.

Conversamos com ela para conhecer melhor os desafios de uma jovem escritora de fantasia no Brasil.

Como surgiu o interesse em ser escritora?

Eu sempre amei ler histórias. Minha mãe e meu avô eram ligados em livros. Comecei a escrever aos 13 anos. Aos 18, eu já sabia que queria ser escritora.

Por que escolheu a fantasia?

Acho que a fantasia que me escolheu. A minha maior dificuldade foi ordenar a fantasia que morava dentro de mim. No meu primeiro livro, eu vi o fio de uma história, mas não consegui ordená-la. Com o passar dos anos, o meu desafio se tornou transcrever a fantasia que eu via, com o máximo de clareza possível.  

Quantos livros você tem publicados e quantos são de fantasia?

Tenho três livros publicados, os três são de fantasia. O primeiro, O Reino Coração Azul, é a história de uma extraterrestre, todo escrito em versos; o segundo, Destino, é um livro de minicontos ilustrados; e o terceiro, A viagem de Meteóris, é um romance.

Você estuda teoria também?

Eu leio teoria para escrever, especialmente teoria de escrita. Para editar é fundamental avaliar diversas camadas do texto. A teoria de escrita foi muito valiosa para mim. Eu também gosto de estudar teorias da literatura de fantasia, mitologias, contos e lendas.

Você estuda temas específicos para compor seus livros?

Com certeza. Quando se escreve fantasia, se copia o mundo real, mesmo que se disfarce bastante, porque o mundo real é a nossa referência. Então temos de fazer pesquisa. Muitas vezes, o lugar X é parecido com tal lugar da Terra, então, haverá pesquisa sobre esse tal lugar da Terra. Ou a criatura Y é parecida com um leão e um dinossauro, então deverá ter uma pesquisa sobre o comportamento ou fisiologia do leão e do dinossauro para combiná-las e descrever a nova criatura.

Viajar te ajuda a se inspirar para escrever?

Muito! Pessoas diferentes e lugares paradisíacos me inspiram. Pode ter sol e água de coco ou café, bolo e um dia chuvoso.

Qual a sua rotina de trabalho?

Eu gosto de trabalhar todos os dias, pelo menos seis horas por dia. Incluo nessas horas a escrita, os planejamentos da história, as leituras de pesquisa e a edição. Sempre há muito trabalho a ser feito.

Qual o seu livro/autor predileto? Qual te inspirou a escrever A Viagem de Meteóris?

Tenho algumas paixões e todas elas me inspiraram. A História sem Fim, As Crônicas de Nárnia, O Senhor dos Anéis, O Hobbit, O Mágico de Oz, Peter Pan, A Fantástica Fábrica de Chocolates, Harry Potter, Abarat, Coração de Tinta, O Barba Negra, A Ilha do Tesouro, entre outros.

Capa de A Viagem de Metóris, ilustrada por Marina Faria

Agora vamos falar da Meteóris. Sobre o que fala o livro? 

O livro fala sobre o crescimento de uma adolescente. A viagem é um rito de passagem para Meteóris, de 13 anos. Ela mora em Domus e lá, todos os estudantes fazem uma viagem de volta ao mundo para concluir o primeiro ciclo da escola. Ela parte com seu melhor amigo, e eles passam por todos os continentes, levando totens mágicos de um mestre a outro, até retornarem para casa.

No seu livro tem uma apresentação da escritora Ana Miranda. Como ela conheceu o seu trabalho?

Eu fiquei muito feliz quando ela topou ler meu livro e fazer a apresentação. Li “Boca do Inferno” quando estava no Ensino Médio, e ele foi um livro inesquecível para mim. A Ana Miranda é um ícone da literatura brasileira. Fui estudar em Londres em 2007/2008 e quando voltei, conheci a Ana por meio de uma amiga em comum. Desde então, acompanho de longe a carreira dela. Quando A Viagem de Meteóris ficou pronto, não tive dúvidas. Enviei para ela e disse: se você achar o livro bom, poderia escrever uma apresentação?

Como você começou a escrever? Há quanto tempo você está trabalhando nele? Conte-nos o processo de ideia, escrita, maturação e revisão do livro.

Comecei a pensar a ideia do livro em 2010, mas a primeira linha surgiu em 2011. Foi um livro fácil e difícil ao mesmo tempo. A ideia já estava pronta: queria escrever sobre a viagem de uma adolescente ao redor de seu planeta. Essa simples ideia já me dizia muito sobre o arco da história. Mas havia muito mais a escrever. Como seria esse planeta? Quem era a protagonista? E se nesse planeta as pessoas tivessem almas-gêmea, fossem inteligentes e sensíveis e mal precisassem conversar para se entender? Se reconhecessem suas próprias emoções e paixões? E se houvesse continentes como Artes, Natureza, Astronomia, Magia, Invisível e Paz? E se minha personagem fosse uma garota de 13 anos tímida e simpática? Sentei e escutei a primeira linha do livro, onde Meteóris ganhou voz e vida dentro das páginas.

Sobre os seus desenhos, eles parecem bem infantis, conte a respeito deles.

Eu sempre desenhei, sempre gostei de desenhar. Comecei a ilustrar para os meus textos desde o meu primeiro livro em 2006. Estudei ilustração na University of the Arts em Londres, em 2008, e encontrei o meu estilo (esses personagens palitos, canetinha e colagens com papeis). Sei que meus traços têm limitações, mas amo desenhar. Quando consigo representar o que preciso, sinto que a missão foi cumprida.

No caso de A Viagem de Meteóris, os desenhos são feitos pelas mãos de Meteóris.  Porque o livro é uma espécie de carta de viagem dela para um amigo. Então ela faz os desenhos para que ele entenda bem como as coisas aconteceram. 

A ilustração foi feita em parceria com a Marina Faria, que fez a imagem da capa, do pôster e as ilustrações de abertura e fechamento do livro. A gente achou que isso ficou legal porque as ilustrações da Marina marcam a realidade fora da carta, e as minhas ilustrações marcam a realidade dentro da carta que a Meteóris escreve.

Conte a parceria da sua editora Sinete com a Bookerang para lançar a Meteóris.

Criei a Edições Sinete para tirar da gaveta dois projetos que estavam prontos e sem editora. Destino e O Livro Azul, este último escrito por Lilian Jacoto e ilustrado por mim. Quando A Viagem de Meteóris ficou pronta, enviei para várias editoras, mas não consegui um contrato. Então fiquei feliz quando um amigo, dono da Bookerang, me ofereceu parceria. A Sinete vai ficar com a parte impressa, e a Bookerang com a digital. A Viagem de Meteóris só ganhou: vai sair em audiolivro e ebook, além do livro impresso. E se tudo der certo, vamos ter os livros distribuídos nas livrarias.

Eu gosto de trabalhar pelo menos seis horas por dia. Incluo nessas horas a escrita, os planejamentos da história, as leituras de pesquisa e a edição.

Meteóris vai ter sequência?

Sim, A Viagem de Meteóris vai ter mais um livro. Espero lançá-lo em dois ou três anos.

Você chegou a desaminar? Quais foram os maiores obstáculos?

Sempre tive convicção do meu desejo de ser autora, mas é claro que há obstáculos. Eu queria ter sido ilustradora do livro de outras pessoas também — isso era um sonho meu —, mas percebi que meus desenhos não tinham muito a pegada do mercado. Publicar sem editora é também bastante desanimador, mas os caminhos vão se desenhando e tudo vai dando certo.

E incentivo e apoio?

Eu sempre tive incentivo e apoio. Primeiro dos meus pais, depois do meu marido. Ser escritora não é ter uma carreira dinâmica que apresente resultados rápidos. Mas é muito gratificante.

O que você diria para quem tem vontade ser escritor(a) também?

Acho que eu diria para ler, ler, ler, escrever e editar, editar, editar. Um bom livro é um livro retrabalhado. Sempre.

Dá para viver como escritora no Brasil?

Eu nunca ganhei dinheiro com os meus livros, nem com a minha editora, mas quem sabe um dia. Acho que todo escritor deve ter uma fonte de renda que não a de escritor. Porque um livro não deve ser feito às pressas. Um livro deve ser escrito e trabalhado, às vezes por anos, até ficar pronto.

Já pensou em adaptar a Meteóris para outras plataformas?

Eu adoraria qualquer adaptação que levasse o livro e a história mais adiante. Que fosse teatro, animação, quadrinho, cinema. Acho que todo escritor gostaria.

Como escritora, que legado você gostaria de deixar?

Que as crianças valorizem e amem a si mesmas para poderem amar e valorizar o planeta, os animais, a natureza, os seres e a vida em geral.

Qual o papel da literatura e especialmente da fantasia no cenário atual?

Acho que a literatura e a fantasia são combustível para os sonhos e a imaginação — características tão importantes para os seres humanos, especialmente nos dias de hoje. Para mim, a literatura sempre deu esperanças.


Cristina Casagrande é doutoranda em literatura tolkieniana e pretende levar a tese até o fim, embora não saiba o caminho.

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