Por Fernanda Correia
Desde que anunciou a produção de uma série baseada nas obras de J.R.R. Tolkien, a Amazon Prime, o serviço de streaming da Amazon, vem mantendo segredo a respeito do que podemos esperar. O suspense é alimentado com pequenos teasers e dicas, como o mapa com a ilha de Númenor publicado em suas redes sociais e que fez a todos deduzir de que a série será ambientada na Segunda Era.

No final de julho, para a surpresa de todos, foi divulgado um pequeno vídeo apresentando a equipe de produção. Foi confirmado o período do qual será tratará e o título, “LotR on Prime”, ou seja, O Senhor dos Anéis no Prime.
Ainda não há roteiros definitivamente prontos, e a Amazon também pretende fazer segredo a respeito do que podemos esperar, com isso há diversas especulações. A que ganhou mais força com a confirmação da ambientação na Segunda Era é a de que, ao menos a primeira temporada (o contrato da Amazon é para cinco) seja centrada na ascensão de Sauron e a posterior Queda de Númenor.
Dimitra Fimi, uma das estudiosas da obra de Tolkien mais ativas atualmente, disse na Tolkien 2019, evento da Tolkien Society , que o título é muito coerente porque o Senhor dos Anéis do título da famosa obra é o Sauron.

No mesmo evento, todos disseram estar empolgados com o enredo se passar na Segunda Era e que ainda há muita história para ser contada. No entanto, eles não acreditam que os filmes de Peter Jackson serão refilmados, ganhando assim uma nova versão. Por terem se tornado tão icônicos, devem fazer apenas uma conexão eles. O que pode ser confirmado com a declaração de Tom Shippey ao Deutsche Tolkien, na qual explica que o Tolkien Estate se recusou a permitir que a série abordasse outra parte da história.
Os palestrantes também lembraram que a produção está tomando cuidado, uma vez que o fandom de Tolkien é muito ativo no mundo todo. Além de nenhum membro da equipe poder dizer muita coisa nas pequenas entrevistas que vem dando, qualquer um que enviar mensagem para os perfis da série com sugestões para a trama é bloqueado por questão de direitos autorais.
Logo após a divulgação do vídeo, Tom Shippey deu uma entrevista ao portal alemão Tolkien Gessell [Sociedade Tolkien Alemã], confirmando o período no qual a série se passará e deixando claro que eles devem seguir as diretrizes deixadas por Tolkien em suas histórias. “A obra de Tolkien insistirá que a forma principal da Segunda Era é imutável. Sauron invade Eriador, é forçado a voltar por uma expedição númenóreana e retorna a Númenor. Lá, ele corrompe os númenóreanos e os faz para quebrar a proibição dos Valar. Tudo isso, e o curso da história deve permanecer o mesmo”.

Eles provavelmente não podem mudar os grandes acontecimentos, mas terão liberdade criativa para preencher as lacunas entre eles, podendo até mesmo criar personagens originais como a que será interpretada pelo único nome de elenco divulgado até agora: Markella Kavenagh, uma atriz jovem que nunca participou de uma grande produção.
Não há data de estreia definida, mas a Amazon acredita que deverá lançar seus episódios, com otimismo, no final de 2020, mas que seja mais provável acontecer em 2021. Shippey confirmou que teremos algo em torno de 20 episódios por temporada.
Apesar de não saber dizer em qual aspecto da trama estão focando, o perfil das pessoas envolvidas corrobora a especulação de que seja centrado em Sauron, uma vez que muitos trabalharam com histórias de suspense e terror. Alguns até mesmo trabalharam com Guillermo del Toro, que inicialmente dirigiria os filmes de O Hobbit.
Os showrunners também trabalharam com del Toro e a escolha de seus nomes segue a ideia da Amazon de ocupar o lugar deixado pelo fim de Game of Thrones, pessoas com pouca experiência e que possam se dedicar exclusivamente à série.
Não houve nenhuma novidade quanto ao elenco, mas Ian Mckellen disse no Graham Norton Show que não acredita ser possível que haja outro Gandalf. “Eu não disse sim porque não me perguntaram. Gandalf tem mais de 7 mil anos, eu não estou tão velho.”
Os nomes da produção divulgados são:
Showrunners
Antes de mais nada, vamos entender o que é um showrunner. É a pessoa, ou pessoas como será o caso de LotR, responsável pelo programa. Este cargo tem o poder de aprovar ou mudar diferentes partes da produção de uma série, do roteiro à edição final. São eles que garantem a coerência da história, uma vez que roteiristas estão trabalhando em diferentes episódios e tem apenas uma visão geral.

J.D. Payne e Patrick McKay —
Ambos possuem poucos trabalhos no currículo, mas trabalharam juntos até agora com programas de ficção científica e fantasia.
Roteiristas

Gennifer Hutchison — Já passou por Breaking Bad e Better Call Saul, Grey’s Anatomy, Arquivo X, Star Trek e Mad Man. São muitas series de sucesso na lista, mas vale ressaltar que ela estava em “Ozymandias”, sim, O episódio de Breaking Bad, aquele que levou todos os prêmios e que marcou a série em sua reta final. Talvez tenha marcado a história recente da televisão.
Helen Shang — Tem no currículo 13 reasons why e Hannibal. Eu não sou grande fã de 13, mas Hannibal é incrível. Ela também é creditada como co-produtora de LotR on Prime.
Jason Cahill — Já trabalhou como roteirista em séries como The Sopranos, Fringe e ER, além de produtor em outras como Fear The Walking Dead. The Sopranos é uma das melhores coisas já feitas para a televisão, apenas.
Justin Dohle — Stranger Things e Fringe estão entre os seus trabalhos. Não acho Stranger Things tudo isso, só uma série ok. Curiosamente, Fringe, além de ter sido criado por J.J. Abrams, tem entre seus protagonistas John Noble. Sim, o Denethor da trilogia.
Bryan Cogman — Seu principal trabalho foi com Game of Thrones. O que pode ser tanto bom quanto ruim, uma vez que a série conseguiu audiência até do público que não acompanha fantasia.
Stephany Folsom – Sua carreira é recente e já responsável pela história original de Toy Story 4. Não que a animação fique aos pés das outras.
Consulting writer
Grosseiramente falando, é o revisor dos roteiros.
Glenise Mullins — Já exerceu a mesma função na série Kingdom e em O Exterminador do Futuro: Genesis.
Diretor dos episódios 1 e 2

J.A. Bayona — Seu trabalho mais famoso é Jurassic World: Mundo Ameaçado, mas já dirigiu terror como O Orfanato e episódios de Penny Dreadful. Se a história for mesmo centrada na ascensão de Sauron como novo Senhor do Escuro, um toque de terror é muito bem-vindo.
Produtores executivos
Simplificando, é o profissional responsável por fazer a série sair do papel. Entre suas responsabilidades está o orçamento e a captação de recursos.
Belén Atienza — Trabalhou com o diretor J.A. Bayona nos trabalhos dele citados anteriormente, além de O Labirinto do Fauno, Fim dos Tempos e muitos outros.
Bruce Richmond — Quase um especialista da HBO, trabalhou em Game of Thrones, Westworld e The Leftovers.
Gene Kelley — Não, não é o ator de cantando na chuva. Não se encontra muita informação sobre ele, apenas a de que participou de Boardwalk Empire.
Lindsey Weber — Participou da equipe de toda a franquia Cloverfield, além de Star Trek: Sem Fronteiras e o próximo filme, ainda sem título.
Coprodutores
Também simplificando, seu trabalho é garantir que os produtores executivos consigam realizar o seu trabalho.
Ron Ames — Tem muitos trabalhos em efeitos visuais, como Bumblebee, Age of Ultron, Gigantes de Aço, Comer, Rezar e Amar, Ilha do Medo, Avatar, a lista é longa…
Designer de figurinos
Kate Hawley — Trabalhou no departamento de figurinos de O Hobbit.
Designer de produção
De forma genérica, é o profissional responsável por desenvolver a marca visual do filme/série. Cada detalhe visto em cena, da arquitetura, passando pela iluminação e chegando ao vaso sobre a mesa passa pela mão desse profissional, que tem até categoria própria no Oscar.
Rick Heinrichs – Sua lista de trabalhos também é imensa e tem títulos como Star Wars: The Last Jedi, Fargo, Dumbo, Frankenweenie, Grandes Olhos, Capitão América: O Primeiro Vingador, Piratas do Caribe, Desventuras em Série, O Grande Lebowski, Planeta dos Macacos, Hulk e a lista segue. Ganhou um Oscar por A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e muitos dos filmes citados também foram trabalhos junto com Tim Burton. A mesma lógica do terror para contar a história de Sauron se aplica aqui.
Supervisor de efeitos especiais
Jason Smith — Também com uma longa lista de trabalhos, tem entre eles Os Vingadores, O Regresso, Transformers, Kong, Piratas do Caribe, As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e o Guarda-roupa, Harry Potter e o Cálice de Fogo, entre tantos outros.
Especialistas em Tolkien
O mundo criado por Tolkien é vasto e interligado por muitas questões. Para manter-se tolkeniano e trabalhar com cuidado a mina criativa que os produtores têm em mãos, especialistas no assunto são essenciais para direcionar a todos no caminho correto.

Tom Shippey — Um dos maiores tolkienistas do mundo. Além de ter tido uma carreira universitária parecida com a de J.R.R. Tolkien — foi professor de inglês médio e literatura anglo-saxã — Shippey teve a horna de jantar pessoalmente com o autor. Seus livros The Road to Middle-earth e J.R.R. Tolkien: author of the century são de grande referência nos estudos tolkienianos. Apesar de ser um nome que nos traz segurança de que a adaptação não desvirtuará o espírito da obra de Tolkien, Shippey é apenas consultado pelos roteiristas, mas não escreve a história adaptada.

John Howe — o ilustrador canadense que acabou de fazer 62 (21 de agosto) já é um nome conhecido nas adaptações tolkienianas. Junto com Alan Lee, foi responsável pelo conceito visual das adaptações cinematográficas das obras de Tolkien, tanto a trilogia do Senhor dos Anéis quanto a do Hobbit, ambas dirigidas por Peter Jackson. A presença dele nos questiona se a estética da série vai ser parecida com as adaptações de Jackson, enquanto a ausência de Lee nos faz pensar o contrário.

Fernanda Correia é jornalista, leitora de Tolkien desde os 14 anos e ficou ofendida que Gandalf não apareceu no seu aniversário de 33. .