Entrevista com Rafaela Casalecchi
Por Cristina Casagrande
Uma das grandes qualidades da trilogia cinematográfica de O Senhor dos Anéis — e, neste caso de O Hobbit também — são as paisagens, a maioria delas externas, ou seja, apresentadas sem o artifício da computação gráfica. A gravações ocorreram em lugares diversos da Nova Zelândia e agora, mais uma vez, o país será palco para a série de The Lord of the Rings on Prime da Amazon.
Rafaela Casalecchi, formada em administração em hotelaria e turismo, especializou-se em consultoria para viagens à Austrália e Nova Zelândia e responde a nós algumas dúvidas para quem tem interesse em conhecer as paisagens e atrações dos filmes da Terra-média.

Conte sobre a sua trajetória para abrir a sua empresa de turismo, Southside Travel
O Turismo sempre fez parte da minha vida, desde bebê: meu pai é piloto de avião. Ele sempre nos encantava trazendo coisas diferentes de outros estados e países. Isso despertou curiosidade, respeito e humildade.
O mundo é muito maior do que achamos que sabemos e sempre temos o que aprender com outras culturas. Lembro-me de jogar uma brincadeira chamada “paredão” em minha escola, que consistia em pintar o mapa-múndi em uma parede. Eu olhava aquilo e sonhava em conhecer as partes do mundo! Estudei hotelaria e turismo na faculdade, pois, com isso, poderia trabalhar em outros países. Nesse meio tempo, me dediquei a estudar inglês sozinha, ouvindo músicas, lendo letras e vendo filmes com legenda em inglês. Aos 25 anos, me mudei para a Austrália. Tive alguns empregos, um deles numa área totalmente diferente da minha, o que me fez confirmar que é mesmo com Turismo que gosto de trabalhar. Conheci também diferentes partes da Nova Zelândia, pedaço por pedaço, e me apaixonei igualmente!
Trabalhei por quatro anos no Instituto de Esportes Australiano, onde recebia pessoas de todo o mundo. Fechei meu primeiro ciclo na Austrália com chave de ouro, viajando seis meses em um trailer.
Então não há nada mais justo do que usar toda essa vivência para guiar outras pessoas em viagens incríveis como as minhas!
Por que o interesse por Austrália e Nova Zelândia?
A princípio, eu só precisava de um lugar onde falassem inglês, mas que não fosse os Estados Unidos e Europa, porque todo brasileiro quer ir pra lá. Eu queria algo além disso, mais diferente. E a cada dia, até hoje (mais de 13 anos depois que pisei pela primeira vez), descubro que fiz a escolha certa. Sou completamente apaixonada por esse cantinho do mundo!
São países encantadores e estimulantes, porque têm contrastes e harmonia em tudo.
A Austrália é onde está a cultura viva mais antiga do mundo no mesmo lugar onde surgem tecnologias e conceitos muito recentes (como wifi e selfies). A Nova Zelândia é o lugar mais recente a ser habitado no mundo (e se tornado nação) e, depois de um período de muita supressão (pós-colonização europeia) está retomando e reavivando sua cultura nativa com muito orgulho. E foi também o primeiro país do mundo a dar direito de voto às mulheres.
Eles misturam perfeitamente sua autenticidade “rústica” com a modernidade.
O que mais chama atenção de um turista brasileiro nessas regiões?
As paisagens dos filmes, o estilo de vida, o dólar mais barato, a natureza exótica e exuberante, a força da cultura nativa e sempre: simplesmente ser a Terra-média.
Por que alguém que busca viajar para esses lugares deve procurar um profissional especializado como você?
Em poucas palavras, para ter uma experiência mais estruturada. Porque essa é uma viagem cheia de detalhes, e todos eles precisam se conectar para funcionar com sucesso. São países grandes e suas atrações são espalhadas.
O viajante precisa de estrutura, organização e lógica para, dentro do seu perfil, não deixar de fazer nada do que busca e para não perder tempo em algo que não tenha a ver com seu estilo.
O investimento pode ser grande ou pequeno, dependendo do que cada viajante quiser da viagem. Mas qualquer que seja esse investimento, é melhor que ele seja feito de uma maneira inteligente.
Conte sobre as especificidades da Nova Zelândia.
É um país multicultural e com muitas variações climáticas.
É como uma volta ao mundo em um país só!
A Nova Zelândia é o lugar mais recente a ser habitado no mundo (e se tornado nação). O povo que a habitou veio da Polinésia, mas ainda não se sabe especificamente de onde. É um país que fica no Anel de Fogo, região que compreende a Nova Zelândia, sobe ao Japão e desce pela costa oeste das Américas.

Por isso, sua geografia é totalmente diferente do resto do mundo. Lá temos aquelas paisagens cinematográficas, com lagos, montanhas, praias, geleiras, vulcões, florestas, parques geotermais, águas cristalinas e natureza ainda intocada em muitos lugares. O clima é temperado e sua paisagem muda muito a cerca de cada duas horas de viagem.
É composta de duas ilhas maiores, a Norte e a Sul (além de muitas outras ilhas menores) e cada uma tem suas características.
A Ilha Sul é mais fria, chegando a 0ºC nas cidades no inverno, e a Ilha Norte é mais quente, chegando a 30º nas cidades no verão.
As atrações são diversas e variadas. São baseadas na natureza, temáticas das obras de Tolkien, esportes, cultura, pedagógicas museus, universidades, centros de ciência e gastronomia. Também tem tudo o que um cosmopolita aprecia como ótimos restaurantes, hotéis, vida noturna etc.
Os habitantes são amigáveis, leves, divertidos, autênticos, interessados em outras culturas, extremamente respeitosos e conscientes para com o outro e com a natureza. São viajantes natos e amam seu país.
É o país de Peter Jackson, diretor dos filmes O Senhor dos Anéis e O Hobbit, que encontrou em sua própria casa o lugar ideal para representar a Terra-média.
O que um fã de Tolkien pode encontrar na Nova Zelândia? Qual a melhor época para cada atração?
Em geral, todas as atividades (assim como o povo de lá) são bem adaptadas para operar em todas as estações. Poucos lugares ficam inacessíveis no inverno, mas ainda podem ser vistos de longe (como “Mount Doom” por exemplo). A Nova Zelândia tem as quatro estações bem definidas, então a melhor época vai depender da preferência de cada viajante.

Quem não gosta de frio deve evitar viajar entre maio e setembro. Quem não gosta de calor e aglomerado de gente deve evitar dezembro e janeiro.
Um fã de Tolkien pode encontrar sets de filmagens por todo o país, dos mais acessíveis aos mais remotos, dos de graça aos super exclusivos, de Hobbiton aos estúdios onde foram feitas as digitalizações e onde foi feito o Um Anel. Independente da época do ano, todos são encorajados a entrar no clima e vestirem seus melhores modelitos inspirados nas obras!

É um passeio mais para casal, amigos ou família com crianças?
A Nova Zelândia é bem estruturada para todo tipo de viajante, oferecendo incrível acessibilidade. Para os mais econômicos oferece ótimos albergues em localizações centrais e boa estrutura. Assim como para viajantes de hotéis 3 ou 4 estrelas e para os viajantes mais luxuosos, que também acessam os restaurantes de alta gastronomia e serviços extras como passeios privativos e tratamentos em centros de saúde e bem-estar.
Independente do estilo, casais encontram facilmente opções românticas e o quanto de privacidade quiserem. Amigos têm opções de acordo com o seu perfil, e famílias encontram toda a estrutura de que precisam, não importa a idade das crianças.
Quais as maiores vantagens e os maiores empecilhos para quem vai para a Nova Zelândia?
Os maiores empecilhos são achar que é mais longe e mais caro do que realmente é.
Na verdade, é mais barato comer e se hospedar lá do que nos Estados Unidos e Europa.
Além disso, o dólar neozelandês está menos do que três reais, enquanto o dólar americano está mais do que quatro reais e o euro está quase cinco reais.
Sobre distâncias, podemos comparar um voo à Nova Zelândia a um voo a Dubai ou a San Francisco. O inverno pode ser um empecilho caso você queira escalar algumas montanhas.

As vantagens são que você conhece um país rico em natureza e modernidade, único em suas paisagens e ainda relativamente intocado. Tem contato com culturas de muitos outros países asiáticos e europeus e pode explorar inúmeras culinárias internacionais dentro de uma simples praça de alimentação de um shopping ou em uma cidade do interior.
As pessoas têm receio do tempo de viagem. É muito incômodo especialmente para crianças pequenas?
O voo saindo de São Paulo precisa ter escala no Chile ou na Argentina. Essa é a “‘perna” mais curta da viagem. De lá, são doze horas até Auckland, a cidade neozelandesa onde chegam os voos da América do Sul.
O entretenimento a bordo é bem variado, e as aeronaves também são boas, sendo que duas delas são constantemente premiadas.
Cada família vai precisar considerar a tolerância de cada um, mas geralmente não há problemas. Muitos brasileiros vivem lá e viajam com crianças todos os anos para visitar família no Brasil, coisa que não fariam se fosse muito ruim [risos].
Quais as dicas para uma viagem mais confortável?
Sempre se alimentar bem e beber muita água. Descansar bastante e tentar ajustar o fuso horário uns dias antes da viagem.
Eu sempre uso a rotininha: filme/seriado/jantar/seriado/dormir/filme/café da manhã/seriado e chegou!
Algumas ideias para economizar mais na viagem?
Planejamento, pesquisa, contatos e conhecimento.
Entender qual local é bom para o que se quer fazer para evitar perder tempo. Levar lanchinhos para o dia, almoçar algo leve e comer melhor à noite. Ver se existem tarifas para famílias em passeios e reservar com antecedência, principalmente passagem e hotéis.
Você já recebeu muitos fãs de Tolkien? O que eles costumam achar da viagem?
Geralmente um é o fã e os outros acompanham. Já montei lua de mel, viagens em família, solo e entre amigos. As experiências são sempre únicas, pois o que parecia tão impossível de vivenciar fica ali, à sua frente e ao seu redor, e você fica imerso na Terra-média com fãs de todas as partes do mundo, seja a viagem totalmente focada nos filmes ou uma mistura com natureza e cultura locais. É sucesso com certeza!

Rafaela Casalecchi — especialista em Austrália e Nova Zelândia
Southside Travel: https://southsidetravel.com/
Instagram: @rafaela.casalecchi/ @southsidetravel
